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Rizoma: Teste do Estilhaço

abril, 2017

Pode-se dizer que samplear, fazer loops, re-montar tanto materiais encontrados quanto sons site-specific selecionados, por precisão ou relevância, para as implicações de mensagem de uma peça de música, ou uma exploração transmídia, é um fenômeno TodAlquímico, mesmo Mágiko1. Não importando quão curto, ou aparentemente irreconhecível, um sampler deve estar na percepção linear do TEMPO, ele deve, inevitavelmente, conter dentro de si, (e tornar acessível através dele) a soma total de absolutamente tudo que seu contexto original apresentava, comunicava ou de alguma forma tratava. Além disso, ele deve implicitamente incluir também a soma total de todo indivíduo de alguma forma conectado com sua introdução e construção dentro da cultura (hospedeira) original, e toda cultura subseqüente (fabricada ou em mutação) que com ele, de qualquer maneira, meios ou formas, tenha tido contato, para sempre…(no passado, presente, futuro e zonas temporais quânticas).

“Duas partículas que tenham estado uma vez em contato continuarão a agir como se estivessem informacionalmente conectadas, independente de sua separação no tempo e no espaço”. – Teorema de Bell.

Se despedaçamos um holograma e o espalhamos, perceberemos que em cada fragmento, não importando quão pequeno, grande ou irregular, veremos o holograma inteiro. Este é um fenômeno incrivelmente significativo. Se pegamos, por exemplo, um ESTILHAÇO de John Lennon, tal estilhaço conterá dentro dele, de uma forma muito real, tudo que John Lennon já experienciou, tudo que John Lennon disse, compôs, escreveu, desenhou, expressou, todo mundo que conheceu John Lennon e a soma total de toda e qualquer dessas interações; todos que já escutaram, leram, pensaram, viram, reagiram a John Lennon ou qualquer coisa remotamente conectada a John Lennon; toda e qualquer combinação passada e, presente ou futura das descritas acima.

Toda essa informação enciclopédica – e a viagem no tempo a isso conectada através da memória e de experiência prévia – acompanha um “estilhaço” de memória, e deveríamos saber que ele carrega consigo uma seqüência infinita de conexões e progressões através do tempo e do espaço. Tão longe quanto se deseje ir. Podemos todos agora atestar a capacidade de montar, através desses “estilhaços”, COMPOSTOS de qualquer era. Estes compostos estão basicamente RELEMBRAndo 2. Eles estão na verdade ultrapassando os usuais filtros da realidade consensual, por que existem numa forma aceitável (ou seja: TV/filme/músicas/palavras), e se propagando para seções “ahistóricas” do cérebro, acionando toda e qualquer reverberação consciente e inconsciente relacionada com esse hieróglifo-estilhaço.

AGORA TEMOS INFINITA LIBERDADE DE ESCOLHER E MONTAR, E TUDO QUE MONTAMOS É UM RETRATO DO QUE SABEMOS OU DO QUE VISUALIZAMOS COMO SENDO. ESTILHAÇAMENTO HABILIDOSO PODE GERAR APARIÇÃO: ISTO É O “TESTE DO ESTILHAÇO”.

Estamos escolhendo estilhaços conscientemente e inconscientemente para representar nossos próprios padrões miméticos (DNA), nossas próprias aspirações e marcas culturais; estamos, num sentido verdadeiramente mágiko, INVOCANDO aparições, talvez mesmo resultados, com o fim de confundir e provocar curtos-circuitos em nossas percepções e confiança no TODO.

Qualquer coisa, em qualquer meio imaginável, de qualquer cultura, que esteja gravado em qualquer formato e possa de qualquer modo possível ser tocado de novo é agora acessível e infinitamente maleável e utilizável por qualquer artista. Tudo está disponível, tudo está liberado, tudo é permitido. MONTAGEM é a linguagem invisível de nosso TEMPO. Infinitas escolhas de realidade são o presente do software para nossas crianças.

 


Notas:

1. É preciso ter em conta a linguagem de Genesis P Orridge, que além de ser um criador de neologismos (AllChemical, por exemplo, traduzido como TodAlquímico), utiliza referências esotéricas arcanas (como o termo magick [magia ocultista], em vez do comum magic [magia ilusionista], e aqui traduzido como “mágiko”) e sua preferência por alterações excêntricas de pronomes e preposições inglesas, gerando um espécie de dialeto inglês esotérico-elisabetano-futurista, com ov no lugar de of, ou thee no lugar de the, expressões praticamente intraduzíveis, as quais, em virtude da falta de equivalentes em português, evidentemente não foram traduzidas tal como estão no original. (N. do Trad.)

2. Outra expressão intraduzível, REMINDing, cuja composição junta tanto o termo relembrar (remind) como mente (mind), uma brincadeira que pode incluir a possibilidade de re-fazer a mente (Re + Mind). (N. do Trad.)

Tradução de Ricardo Rosas
Rizoma: Recombinação
(.pdf 2.2mb)

 

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