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Pedro Arma

agosto, 2014

O imperativo de ficar é falso, não compre. É vontade de berço. As pessoas veem, mas não entendem. Isso aqui tem um limite. Há de se separar do útero, há de se afastar de casa, tenha o amor que lhes é de direito, pelos pais e mais ainda que possa, o quanto possa, pelos irmãos, mas vá. Parta. E jamais se contente com os pensamentos de garantias que lhe tentarão convencer pela passagem de volta, como se o abraço fosse um aconchego, não é. Não fite os quadros nas paredes, não se lembre. Quem sabe a infância, se essa vale o esforço. Mas infância é mais pesado que lembrança, fica mais ao fundo do crânio, pesado, inerte e inocente. Até ali é consentido. Não mais.

O bem que querem pra ti gira num contorno beirando as paralelas pernas deles, e é fato que vão lhe querer por perto, por todo o trajeto, com sincero apreço. Mas é preciso segredo, sujeira. É preciso acordar. A raiz só lhe chama. Você só se põe de pé. Despertar fica em outra casa, em outros cômodos, e a mão mente, o afago agarra por dentro, arranha prendendo. Farpa que a memória confia ser alma.

É fato, e mandatório: a surra diária, a desistência de sonhos, descrença da vida, as garrafas, hálitos acres, sexo à boca, letra, refrão, dentes tintos, brancos, heróis, quimeras, vontade, poeira, livro, Pessoa, fantasia, você por aqui? Por que não? Pois bem. Vamos? Vamos. Que tal? Bem. Até. Até.

Um brinde às lesões por delírios.

É necessidade esquecer o seio murcho-vazio, o respeito do conceito, o social-imposto-correto, o leite do pai, os lábios debaixo da mãe.

Nunca é fuga quando se corre pra dentro. Não há exageros se a areia birra em não deixar de escorrer. É a gente cessando. Eu suicidado. Nós iludidos. Tempo, tempo, tempo. A carcaça de pé, a cabeça a milhão, falta aquilo, falta tanto.

É ser pra ser, pra ir, sem vir, só lá, daqui, pra si, sempre, contando, ganhando, perdendo, portanto, coragem!

 

(ampulheta meio vazia, ampulheta meio cheia)

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